Skype
20:30Adriane RibeiroSemana passada eu estava conversando com Annie, uma garota que conheci na escola. Nós acabamos de nos mudar para nossos novos apartamentos, ambos estamos solteiros e o primeiro semestre ainda não havia começado – o que significa muito tempo para conversar. Normalmente nós conversaríamos pelo menos uma vez ao dia.
Os assuntos que nós conversávamos não eram tão interessantes: Ela havia comprado fones novos, eu assisti A Princesa Prometida pela primeira vez. Mas isso não era sobre o assunto, era apenas legal ter alguma companhia familiar para conversar, sabe?
Enfim... Era uma manhã de terça-feira e eu estive fora na noite passada, e ainda podia sentir o efeito da ressaca... Mas fui acordado com o som da chamada do Skype, me xinguei mentalmente por ter deixado o notebook ligado e levantei da cama massageando as têmporas.
“Hnnhg, oi?”
Meus olhos estavam doloridos e eu tive que lutar para me concentrar e mantê-los abertos, a luz do monitor parecia muito mais forte. Annie estava sorrindo e arrumada, exibindo seus novos fones de ouvido. Ela acenou para mim levemente, e eu tentei responder com um sorriso.
“Olha só, quanta animação.” Ela disse.
“Você deveria ter me visto noite passada, meus movimentos na pista deixaram todos no chão.”
“Isso não me impressiona... Ei, você não tem um encontro com o seu tutor hoje?”
Eu olhei para meu calendário, mas a tinta da caneta parecia correr pelo papel, então eu presumi que ela estava certa, e imaginei sair pela manhã, qualquer raio de sol por minúsculo que fosse estava fazendo meus olhos latejarem.
“Ah, que se dane,” Eu murmurei. “E você, quais são os planos para hoje?”
“Esperando uma ligação da Erin. Ela viajou ontem, deixou apenas uma carta na mesa dela, dizendo que ia visitar a família.”
“Quem é Erin mesmo?” Eu perguntei, sério. Sabe como é, seus amigos falam demais dos outros amigos e você acaba não lembrando quem é quem. Annie fez uma careta.
“Minha “vizinha”, o quarto dela é em frente ao meu. Ela simplesmente desapareceu, quer dizer... Isso foi há um dia, mas eu estava pensando em dar uma ligada para os pais dela, só para saber se ela está bem.”
Eu dei de ombros. “Melhor prevenir do que remediar, não é?”
Antes que ela pudesse responder ouvi um som de alarme, ela começou a falar várias coisas que foram abafadas pelo barulho e eu cobri minhas orelhas. “O que você disse?”
“Eu disse: É o alarme de incêndio! Eu vou lá fora só por um momento ou a supervisora vai encher muito meu saco.”
“Que horas eu posso te ligar?” Eu disse, falando o mais alto que pude, mas sem gritar. Minha cabeça ainda estava doendo.
“Não se preocupe, só vou ficar lá por no máximo cinco minutos, vou deixar o Skype aberto.”
E depois de dizer isso, ela levantou, colocando os fones na mesa e saiu do quarto. Após alguns minutos o alarme cessou.
E então a porta abriu.
Não era Annie, no entanto. Estava usando um surrado terno velho e azul; um chapéu e uma máscara feita de algum bode ou ovelha, mas meus olhos foram atraídos pelas mãos: Uma luva de borracha que parecia ter algum tipo de zíper... Eu podia imaginar essas luvas em mãos açougueiros ou pessoas que saem para caçar.
Por alguns segundos eu apenas sentei lá e fiquei me perguntando se esse era algum tipo de brincadeira que a Annie estava fazendo comigo, mas depois de alguns minutos analisando a figura, parei de pensar e resolvi fazer algo.
“O que você está fazendo? Quem é você?”
A figura não me respondeu, não podia me ouvir de qualquer jeito, os fones da Annie ainda estavam conectados no notebook. Então, ele apenas ficou lá, observando o quarto. Alguns momentos depois, começou a se aproximar da mesa enquanto eu passei a mão na minha, procurando meu celular. Eu precisava avisar Annie!
Selecionei o número dela, não tirando meus olhos da tela nem por um momento. E ele parecia me olhar de volta, quase penetrando a tela.
Conectando........
Click.
Chamando........
A figura mascarada congelou. E então, calma e lentamente esticou sua mão para o espaço fora da câmera. Eu tentei me esticar e enxergar, mas era impossível.
E então eu vi.
Estava segurando o celular da Annie – ela havia deixado na mesa.
A figura virou sua cabeça para o lado, me jogando o que eu chamaria de “olhar de piedade” antes de ignorar minha ligação e colocar algo em cima da mesa de Annie. Eu vi por apenas um momento, mas parecia um envelope.
A figura andou até o closet dela e abriu a porta, se esgueirando dentro do local um momento depois, tentando se encaixar. Por um segundo, pareceu hesitar, olhando para a webcam e encontrando meus olhos, por um momento vi sua boca e seus dentes, que pareciam esboçar um sorriso.
E então fechou a porta do closet.
Eu olhei para meu celular, eu precisava chamar a polícia, não havia duvidas, mas assim que disquei o número percebi o quão estúpido soava aquilo. A cidade de Annie estava a mais de 3000km de distância da minha, eu não poderia ajudar.
Disquei o número mesmo assim.
Conectando........
Click.
Chamando........
“Emergência, em que posso ajudar?”
“Ah sim, eu preciso relatar algo—”
Não pude completar a frase.
Não pude completar a frase porque vi Annie abrindo a porta e entrando no quarto correndo. O cabelo dela estava molhado por causa da chuva e ela sorria enquanto se aproximava da webcam. Eu gritei o mais alto que pude, ainda ignorando a dor de cabeça que senti, pedi pra ela correr e senti lágrimas quentes descendo pelo canto dos meus olhos. Ela não me escutava!
Ela se sentou e pegou os fones de ouvido, e enquanto eu gritava a porta do closet se abria.
“Senhor, em que posso ajudar?”
“Senhor, o que você precisa relatar? Você está machucado?”
“Senhor?”
Via: Creepypasta Brasil
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